Apartamento em Gouveia | M2 Senos

Gouveia, located at the foothill of Serra da Estrela, has Avenida General Humberto Delgado in its toponymy, renamed after the 25th of April 1974. It is an iconic avenue at the top of the city, with a residential nature, confirmed by the magnificent houses and generous road profile, punctuated by the vast existing trees.

It is there, between the houses, that we find the 1965 building with three floors and six units. Without pretensions, these modernist-style buildings, like so many other contemporary examples, filled the country's main cities. If the use of concrete visors, continuous balconies to accentuate some horizontality, and wooden three-leaf windows are common elements, the local context stands out. Specifically, its location on terraces supported by granite walls or the stonework details in local stone, which gives it some personality. The renovated apartment is on the first floor, however, it has level access from the back, given the location's topography.

The intervention aimed to preserve the existing building as much as possible, for economic reasons, but also to maintain its character, respecting its details, flooring, wooden frames, or antique furniture.

The organization of the space was favorable: an intimate nucleus with three bedrooms separate from the social areas, two living rooms, and a kitchen. There was also a small room with a sanitary installation next to the kitchen and connected to the laundry room. A room intended for a maid, a memory of other times, which made no sense to keep.

Therefore, the changes were just the dismantling of this space, transforming it into the kitchen pantry, and the autonomy of the sanitary installation, facing it to the corridor, to be accessible to everyone.

The living rooms and kitchen also underwent an intervention to increase the communication between the spaces, enhancing experiences and sun exposure. Thus, since the kitchen is facing east and the living rooms west, it is now possible to sense the exterior throughout the day.

The exercise involved creating these direct relationships, especially between the living rooms, between the living rooms and the balcony, between the dining room and the kitchen, and between the kitchen and the patio, maintaining the entire structure and avoiding an "open space" feeling.

The carpentry work had a crucial role because it was through its design, always interpreting the context, that the intervention was silenced.

There was a need for three specific actors. The general carpenter on the project treated the floors and created the kitchen bench furniture and the sinks in solid Sapel wood. A carpenter restored the furniture, such as the old china cabinet, sideboards, and chairs. And another carpenter dedicated himself to lighting, recovering the copper and brass lamp by applying new maple lampshades, and even the floor lamps in Sucupira wood that mark the separation of the living and dining rooms.

In addition, textiles also take center stage: curtains, chair coverings, or the earth-tone sofa. Also worth mentioning is the bench with a moss green burel cushion, a work of excellence from the manufacture of the Serra da Estrela region, which transforms sheep's wool into pieces of unique nobility. It is prepared for comfort in defense against the harsh Serra da Estrela winter.

Everything must change for everything to remain the same.

Ready for another generation.

[PT]

Gouveia, localizada no sopé da Serra da Estrela, tem presente na sua toponímia a Avenida General Humberto Delgado, rebatizada após o 25 de abril de 1974. Trata-se de uma icónica avenida, à cota alta da cidade, de carácter habitacional, confirmado pela presença das imponentes moradias, perfil viário generoso, pontuada pelo vasto arvoredo existente.

É neste contexto, integrado entre o casario, que se localiza o edifício projetado em 1965, com 3 pisos e 6 frações. Sem pretensões, estas construções no seu estilo modernista, à semelhança de tantos outros exemplares seus contemporâneos, pontuavam as principias cidades do país. Se o uso de palas em betão, varandas corridas a acentuar alguma horizontalidade, janelas em madeira com 3 folhas, são elementos comuns, destaca-se fortemente o contexto local. Especificamente, a sua implantação nos socalcos suportados por muros em granito, ou os detalhes de cantarias em pedra local que lhe atribui alguma personalidade. Assim, o apartamento renovado, situa-se no primeiro andar, no entanto, atendendo à topografia própria do local permite acesso nivelado pelo tardoz.

A intervenção tinha como objectivo preservar ao máximo o existente, por uma questão económica, mas também para manter o seu carácter, respeitando os seus detalhes, os pavimentos, as caixilharias em madeira ou o mobiliário antigo.

A organização espacial respondia bem: um núcleo íntimo com 3 quartos distinto das zonas sociais, duas salas, e a cozinha. Existia ainda um quarto de pequena dimensão com instalação sanitária, junto à cozinha e ligado à lavandaria. Aposentos destinados a uma empregada, memória de outros tempos, que não fazia sentido manter.

Assim, as alterações foram simplesmente a desmontagem deste espaço, transformando-o na copa da cozinha e a autonomização da instalação sanitária, voltando-a para o corredor, acessível a todos.

Também o conjunto de salas e cozinha foi intervencionado de forma a tornar os espaços mais comunicáveis, potenciando as vivências e a exposição solar. Assim, uma vez que estando a cozinha voltada a nascente e as salas a poente, é possível agora, ao logo de todo o dia, adivinhar o exterior.

O exercício passou pela criação destas relações directas, em especial entre as salas, entre as salas e as varanda, entre a sala de jantar e a cozinha e entre a cozinha e o logradouro, mantendo toda a estrutura, evitando uma leitura de “openspace”.

O trabalho de carpintaria teve um papel fundamental, porque foi através do seu desenho, sempre a interpretar o contexto, que se silenciou a intervenção.

Foram necessários 3 intervenientes específicos. O marceneiro geral da obra que tratou os pavimentos e executou os móveis de bancada da cozinha e os lavatórios em madeira maciça de Sapel. O carpinteiro que restaurou o mobiliário, como a antiga cristaleira, os aparadores e as cadeiras. E o carpinteiro que se dedicou à iluminação, com a recuperação do candeeiro em cobre e latão, através da aplicação de novos abajures executados em maple, ou ainda os candeeiros de pé em madeira de sucupira que pontuam a separação das salas de estar e jantar.

Em complemento, os têxteis assumem também protagonismo: as cortinas, os forros de cadeira ou o sofá cor terra. De referir ainda o banco com a almofada em burel verde musgo, trabalho de excelência da manufatura da região da Serra da Estrela, que transforma a lã de ovelha, em peças de uma nobreza impar. Preparado para o conforto em defesa do rigoroso inverno da Serra da Estrela.

É preciso que tudo mude, para que tudo fique na mesma.

Pronto para mais uma geração.

Photography: Ivo Tavares